Cada história possui valor inestimável. E se você tivesse total certeza disso?
Já considerou verdadeiramente a importância de se apropriar da sua própria história?
Este ano foi marcado pelo início da minha apropriação da história que desejo construir. Como mulher branca, minhas referências sempre estiveram ligadas a histórias de sucesso, geralmente associadas unicamente ao sucesso financeiro. Isso se deve à construção do nosso imaginário, predominantemente baseado numa narrativa branca e patriarcal.
O ano de 2023 foi um período de experimentação, repleto de altos e baixos ao longo do caminho. Contudo, foi também um ano de busca por novas perspectivas e referências. As profundas injustiças estruturais, nas quais tenho trabalhado nos últimos anos através de ações diretas, advocacy, projetos envolvendo múltiplos stakeholders, facilitação e desenvolvimento organizacional, ainda residiam dentro de mim, seguindo uma mesma narrativa. Como poderia abrir espaço para novas criações?
Eu, que nunca me vi como artista, começo a sentir-me parte desse mundo. Observo a arte pulsar em diferentes cantos deste país, uma arte que, assim como a vida, passou a ser valorizada somente dentro de determinadas narrativas.
Enquanto busco um caminho autêntico neste mundo, ao mesmo tempo em que busco amplificar as diversas histórias que o permeiam e apoio organizações a manterem suas identidades, sinto-me fortalecendo.
Para isso, tenho que deixar partir os medos e abrir possibilidades. Este processo só está sendo possível porque encontrei formas de sustentar essa transformação. Estou me moldando com base nas muitas histórias que encontro e com as quais interajo. Históricas de gente gigante! Valorizemos nossas histórias (em todo o sentido do valorizar). Como diz Michael Meade: não vemos o mundo como ele é, vemos o mundo como somos. A forma como vemos a Terra deve mudar antes que possamos aprender como ajudar a curar a Terra.
Tenho muito pelo que ser grata, e gostaria de expressar um agradecimento especial aos meus mentorados deste ano: Amanda da Cruz Costa Thiago Nascimento Fernanda Vianna Prado Tais Alemar 🏳️🌈 Gisele Reis mas também aos grupos Certificação MetaIntegral Brasil Artistas do Invisível e Instituto Permatropia que ampliam meu olhar de mundo, quem eu sou. Além das organizações e projetos que pude contribuir Think Olga Grupo +Unidos Instituto Perifa Sustentável Da Periferia para Faria Lima.
É possível revitalizar as estruturas quando nos unimos para promover a regeneração. Afinal somos todas as espécies precisam ser partes do futuro, que já estamos construindo.
Desejo que construamos nossas histórias com imaginação, trazendo novamente Michael Meade: a imaginação tem uma forma de iluminar verdades que a razão não consegue encontrar…
Felizes Festas para você, sua família e todos os seres que nos cercam.
Para terminar deixo uma poesia:
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
Ferreira Gullar , Na Vertigem do Dia. 1980.